quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Paraguai no caderno Turismo do jornal Folha de São Paulo

Descubra 'verdadeiro' Paraguai em passeios além da fronteira
LAURA CAPRIGLIONE
ENVIADA ESPECIAL AO PARAGUAI

O frenesi consumista em Ciudad del Este, os inúmeros sacoleiros apressados subindo e descendo ruas cheias de camelôs, as bolsas imensas lotadas de produtos de grife (ou falsificados).
Cenas como essas, repetidas mil vezes, firmaram a convicção de que o Paraguai é só isso. Mas, apenas uma vez, experimente reservar três dias para um passeio um pouquinho além da fronteira.
É onde está o melhor do país: rios caudalosos com saltos vertiginosos, reservas florestais de mata atlântica virgem, ruínas monumentais das missões jesuíticas, e Assunção, com memórias, muitas memórias, a respeito da Guerra da Tríplice Aliança, a guerra que Brasil, Argentina e Uruguai travaram contra o país (1864-1870).
Editoria de Arte/Editoria de Arte/Folhapress
O visitante que afiar os ouvidos poderá se surpreender por uma fala suave nas ruas, diferente do espanhol. Esse pedaço de terra confinado no miolo do continente americano conseguiu manter vivo o idioma guarani, e firmá-lo como símbolo nacional.
Era assim também o interior de São Paulo até meados do século 18, quando o governo português proibiu a língua nativa, impondo como única a lusitana. Para nós, ficaram palavras soltas e nomes de ruas, fósseis sem origem nem porquê. Itaquá, M'Boi Mirim, Mogi Guaçu.
No Paraguai, o guarani é falado tanto por vendedores ambulantes de chipas (espécie de pão de queijo com farinha de milho, delícia que custa R$ 0,80), quanto no requintado Yacht Club de Assunção, a capital paraguaia.
Santiago Gonzalez, político e criador de gado de corte explica: "O guarani é o idioma das emoções, do afeto, da poesia; usamos para falar das coisas pessoais. O espanhol fica para as coisas públicas, para os negócios".
Assunção dista duas horas de avião de São Paulo. Tem preços convidativos, resultado da carga tributária ínfima (não existe imposto de renda no país), hotéis luxuosos, shopping centers, restaurantes gourmet e muitos carrões SUV. Nem parece o Paraguai.
O país ainda é o último lugar sul-americano no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano, mas as exportações de soja impulsionaram o PIB, que cresceu a taxas chinesas: 15,3% em 2010. Já dá para perceber alguns sinais exteriores de riqueza.
Em Assunção estão também o Panteão dos Heróis na Guerra, o palácio de governo, mandado construir pelo presidente Francisco Solano López, a avenida Marechal López, o shopping Marechal López -tudo evocando a "Guerra Grande" sul-americana.
Segundo o historiador Carlos Guilherme Mota, "o Paraguai tinha no início da guerra quase 800 mil habitantes. Morreram cerca de 600 mil, restando menos de 200 mil, dos quais apenas 15 mil era do sexo masculino e, destes, cerca de 2/3 tinham menos de dez anos de idade".
Trauma nacional. O editor italiano Franco Maria Ricci, no livro "Cándido López - Imágenes de la Guerra del Paraguay" (1984), sobre o principal pintor daqueles campos de batalha, mostrou-se impressionado com a forma como os paraguaios defenderam seu país (até quase o último homem), sob o comando de Solano López: "Teriam merecido, sem dúvida, as cores de um Plutarco e de um Tito Lívio: a periferia em que viveram, em troca, lhes valeu nosso esquecimento absoluto".
O esquecimento começa no Brasil. Humaitá, Tuiuti, Cerro Corá, Paissandu, Riachuelo, nomes de batalhas, congelaram-se em placas de ruas e praças. No Paraguai, os anfitriões gentis tratam de lembrar os brasileiros de todo aquele horror.
Marlene Bergamo/Folhapress
Casa contruida por Solano Lopes para sua companheira, Madame Lynch, onde hoje funciona o Palácio do Governo paraguaio
Casa contruída por Solano Lopes para sua mulher, Madame Lynch, onde hoje funciona o Palácio do Governo

25/08/2011-07h52

Tão perto e tão longe do Brasil, Paraguai é um país fascinante

RAFAEL MOSNA
DE SÃO PAULO

O cineasta Sylvio Back guarda uma paixão incontida pelo Paraguai. Já dirigiu dois documentários sobre o país, "República Guarani" (1982), no qual procurou desmistificar a evangelização promovida pelos jesuítas sobre os índios, e "Guerra do Brasil" (1987), sobre a Guerra da Tríplice Aliança, tema também de seu novo livro de contos.
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Ele ainda programa, para 2013, filmar "Yo El Supremo", inspirado no romance homônimo do escritor paraguaio Augusto Roa Bastos (1917-2005), cujo enredo gira em torno de José Gaspar Rodríguez de Francia (1766-1840), líder da independência paraguaia em 1811 e autointitulado ditador perpétuo do país.
À Folha ele contou por e-mail sobre sua relação com o Paraguai.
Folha - Você já dirigiu dois documentários nos anos 1980 e lançou recentemente um livro de crônicas envolvendo o Paraguai. Como surgiu seu interesse pelo país?
Sylvio Back - Além viajar com frequência ao Paraguai, à Argentina e ao Uruguai desde as pesquisas e filmagens de "República Guarani", a partir de 1977, os livros de história e ficção sobre a Guerra do Paraguai foram me inoculando um roteiro como uma faca afiada que ficasse remoendo a carne em busca de algum filete de "aversão às versões", digamos assim.
E o que de mais surpreendente você descobriu durante esses anos de pesquisa?
O Paraguai é um dos países mais fascinantes da América Latina. Tão próximo e tão longe do Brasil... Há quase quatro décadas fui tentado pela sua instigante cultura bilíngue e pela sua crônica civilizatória única e irrepetível no contexto político do continente. Da admiração livresca, fui aos fotogramas. Tanto que realizei dois filmes entre fins de 1970 e 1987.
Já deve ter ido muito ao Paraguai nos últimos anos.
Perdi a conta das vezes em que viajei para lá.
O que pessoalmente notou durante as suas primeiras viagens ao país?
Durante as pesquisas e nas filmagens de "República Guarani", nos fins dos anos 70 e começo dos 80, e, depois, revisitando o teatro de operações da Guerra do Paraguai, uma história que parecia soterrada, em ambas as ocasiões, tive que me haver com a ditadura Stroessner. Essa é uma saga que não gostaria de me lembrar.
Atravessei um rubicão quase intransponível. Os perrengues se estenderam por meses. As dezenas de idas a Assunção até faziam sentido. Imagine, um brasileiro, teoricamente representante do vencedor, querendo fazer um filme, dito neutro, sobre a guerra que mudou a face humana e geopolítica do Paraguai. Nem pensar!
Paula Giolito/Folhapress
No Rio, o cineasta Sylvio Back posa para foto em elevador
No Rio, o cineasta Sylvio Back, que já dirigiu dois documentários sobre o Paraguai, posa para foto em elevador
E como fez para driblar esses perrengues?
Implicaram com o título, que originalmente era "La Guerra del Paraguay", até a negativa para filmar nos sítios históricos da guerra, como Cerro Corá, Peribebuy, Humaitá, Tuiuty, Lomas Valentinas e mesmo Assunção. Eles me obrigaram a mudar o título para "La Guerra de Triple Alianza contra el Paraguay". Tive que assinar um documento nesse sentido. Claro, como a produção era brasileira e os riscos todos meus, e sem vezo de provar nada diante de uma ditadura boçal como a de Stroessner -aliás, vamos combinar, qual a ditadura que não é boçal?-, na hora, concordei.
Recomendaria um roteiro turístico para conhecer o Paraguai multifacetado?
Eu apostaria numa estada de, no mínimo, dez dias. Primeiro, comece por explorar com os olhos, os sentidos e a mente um espetáculo encostado ao Brasil, que é o potente complexo hidráulico binacional Itaipu-Yacyretá e os seus refúgios ecológicos, brasileiros e paraguaios, vibrando com os ecos das majestosas quedas na fronteira tríplice de Foz do Iguaçu.
Já dentro do país, conheça, filme e fotografe as extraordinárias sobrevivências arquitetônicas das igrejas e casario colonial de Santiago, Jesús, San Ignácio Guazú, Trinidad e Santa Rosa. Não deixe de admirar a soberba estatuária barroco-guarani. É um conjunto cultural que ganhou o título de patrimônio da humanidade.
O que mais há de imperdível?
Programe-se para navegar e cavalgar, literalmente munido de todos os apetrechos para um turismo aquático, ecológico, desportivo e contemplativo por esse "oceano tropical" que é o Pantanal paraguaio. Tão inestimável e maravilhoso quanto o gomo brasileiro, leva você a um êxtase diante da natureza silvestre, com milhares de tuiuiús voejando sobre sua cabeça e centenas de jacarés "se bronzeando" às margens do rio Paraguai.
Vá e curta a cosmopolita Assunção, admirando as "muy guapas paraguaias" e "rubias" descendentes de espanhóis e imigrantes de todas as nações que adotaram o país como seu.
Texto publicado originalmente no caderno de Turismo da Folha de S. Paulo de 25 de agosto de 2011

País platino ainda tem lugares desconhecidos dos brasileiros. Missões jesuíticas guaranis e cidades como Assunção, Ciudad del Este e Quiindy mostram facetas do verdadeiro Paraguai.

2 comentários:

  1. Olá, gostei muito do seu blog.
    Será que você poderia por favor me ajudar com uma dúvida? Lá vai:
    Você sabe se em ciudad de leste tem alguma loja que vende produtos de scrapbooking?
    Obrigada
    Bjs
    Sucesso
    Glaucia

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  2. Olá, pessoal
    Achei muito interessante esse artigo. E assim pude me atualizar.
    Até !

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